FAPESP, 60 ANOS OLHAM PARA O FUTURO

Fapesp, 60 anos olham para o futuro

Publicado em 25 maio 2022

Artigo de Vanderlan da S. Bolzani, professora-titular do IQ-Unesp, Araraquara, presidente da Aciesp, membro do Conselho Superior da Fapesp e conselheira da SBPC

Os sessenta anos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp, comemorados em maio, merecem atenção especial do calendário brasileiro de 2022. Neste momento, quando a cena política ocupa as preocupações e a sociedade está empenhada em debater seus destinos, um rápido olhar sobre esses anos pode contribuir para a discussão. O que temos a aprender com a bem-sucedida história da Fapesp nesta fase crítica da vida do país, quando olhamos para o futuro em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS 2030.

Longe de ser um trajeto retilíneo e tranquilo, a história da agência mostra que os resultados exibidos hoje foram fruto de um esforço resiliente de articulação política e do comprometimento de setores progressistas com o desenvolvimento do país. A começar pela criação da instituição. Definida em lei através do artigo 123 da Constituição paulista de 1947, a agência só se efetivaria quinze anos depois, em 1962, por decisão do governador Carvalho Pinto (Fapesp – Uma História de Política Científica e Tecnológica, 1999, org. Shozo Motoyama). Nesse período, o movimento em prol da criação de um sistema de C&T já ganhava corpo o CNPq e a CAPES, implantados em 1951, e com várias outras iniciativas, inclusive estaduais.

Para situar o contexto de mudanças, o historiador lembra que “naquele princípio conturbado dos anos de 1960 deu-se a criação da Universidade de Brasília (UNB, 1961), a concretização da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp, 1962), a implantação da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe, 1963), na Universidade do Rio de Janeiro, e o início do Fundo de Desenvolvimento Técnico e Científico (Funtec, 1964), no seio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), além da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Faperg, 1964)” (Prelúdio para uma História, Ciência e Tecnologia no Brasil, org. Shozo Motoyma, 2004, pág.312). A decisão de criar essas instituições era a resposta possível de um país pobre frente aos dilemas de crescimento econômico em um mundo em rápida transformação. No Livro “A Fapesp 60 Anos, Décadas de realizações” tive o privilégio de escrever a sinopse no. 2 “Um Modelo de Inspiração para as FAPS”, onde destaco o papel da Fapesp no cenário nacional internacional. Hoje, também presenciamos um mundo em rápida transformação e precisamos escolher qual será nosso lugar no novo cenário e neste, a Fapesp continua ímpar.

A identidade da Fundação paulista nos anos seguintes foi construída no exercício contínuo de aplicação do modelo de fomento ao potencial das universidades paulistas, muitas vezes em condições desafiadoras.

O final dos anos 1980 foi marcado por um novo teste na capacidade de articulação política dos grupos paulistas ligados à C&T, quando a Fapesp conseguiu aprovar a legislação que aumentava sua dotação de 0,5 por cento para 1 por cento do orçamento do Estado. A justificativa para isso estava no crescimento considerável de suas atividades e no papel que passara a desempenhar para o desenvolvimento do país. Parte dos números que apoiavam tal argumento estava nas 25 mil bolsas de estudo concedidas e quase 15 mil projetos de pesquisa efetivados no período de 1962 até 1988 (pág. 196 Fapesp – Uma História de Política Científica e Tecnológica, 1999, org. Shozo Motoyama).

O período viu também o bem-sucedido impulso de internacionalização da agência e a criação de convênios com agências internacionais.

Iniciativas que marcam o perfil atual da Fapesp foram implementadas durante os anos 1990. Nessa época começam a ser lançados os projetos temáticos que valorizam linhas de pesquisa específicas. Integração Tecnológica Universidade-Empresa, apoio a Jovens Pesquisadores, pesquisas aplicadas para Melhoria do Ensino Público foram algumas dessas ações. O Programa de Inovação Tecnológica PITE criado em 1995 foi um marco importante da essência de que boa ciência é vital para o desenvolvimento tecnológico e posterior inovação. Na sequência, o apoio para Pequenas Empresas (PIPE) entra em operação em 1997, mesmo ano, aliás, em que tem início o Projeto Genoma. Inúmeros outros programas hoje consolidados estão no DNA Fapesp. Destaco o de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP), onde tivemos o primeiro Projeto Temático dentre os nove articulados para a criação do Programa em 1999.

Além do saldo positivo que tem a mostrar nos sessenta anos e do papel fundamental que exerce no sistema de C&T do País, a agência pode oferecer outra competência neste momento de decisões. Ser uma das plataformas para o futuro do Brasil que busca respostas para o desenvolvimento com base na sua capacidade científica e tecnológica.

Sob os números e fatos desse histórico estão milhares de trajetórias individuais, construídas ao longo desses anos com o apoio da Fapesp. Histórias de carreiras profissionais, como a da autora, para quem as oportunidades das bolsas de estudo e a subvenção de projetos de pesquisa tiveram papel essencial. Vinda de um estado do nordeste, nos anos de 1970, meu desenvolvimento na Universidade está estreitamente ligado ao suporte financeiro e científico oferecido pela Fapesp.

Hoje esse caminho está aberto também aos jovens brasileiros do século XXI que fizeram a ousada opção pela carreira acadêmica.

Parabéns, Fapesp! Que esta instituição ímpar na história de fomento à pesquisa no Brasil continue firme na missão de financiar pesquisa científica em todas as áreas, com um modelo de atuação, amparado em lei, que se tornou referência para todo o País.

Não poderia concluir este texto sem parabenizar todos os envolvidos nesta construção! Presidentes, Diretores Científicos, funcionários técnicos e administrativos, profissionais de comunicação, bem como professores assessores que ao longo destes anos construíram a Fapesp.

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