UNESP 47 ANOS: A UNIVERSIDADE PARA UM PAÍS EM CONSTRUÇÃO

Artigo de Vanderlan Bolzani, professora titular do IQAr-Unesp, presidente da Aciesp e conselheira da SBPC, para o Jornal da Ciência

Dia 30 de janeiro comemoramos os 47 anos de criação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, a Unesp. Assim como as duas outras universidades públicas paulistas, USP e Unicamp, a Unesp tem o que celebrar quando se aproxima do marco simbólico dos cinquenta anos.  Apesar de jovem, é uma universidade de referência nacional e internacional e exibe números superlativos de produtividade em ensino, pesquisa e extensão. Entre eles os cerca de 50 mil alunos e a presença extensiva no Estado, com 34 unidades em 24 cidades do território paulista. Está bem posicionada nos rankings internacionais com bons indicadores de produção científica; situa-se entre as 500 melhores universidades do mundo e ocupa a 11ª posição na América Latina. Seus egressos, docentes e pesquisadores atuam em todo o país e em renomados centros internacionais de ciência.

A trajetória bem-sucedida da Unesp é um exemplo de construção e transformação através do esforço de uma sociedade. Exemplo oportuno no momento em que o país vive novamente um processo de construção, ou de reconstrução, de sua identidade acadêmica e cultural. Ela mostra que a batalha travada nos anos 1980, quando se adotou um novo estatuto baseado em princípios democráticos, trouxe com a vitória uma universidade com ampla participação da comunidade acadêmica, inclusiva, diversa e beneficiária da pluralidade de ideias.

Um relato competente dessa história está no documentário “A história da Unesp”, produzido pela TV Cultura, em 2011. Com base no trabalho de duas pesquisadoras das ciências sociais, Maria Martinez Correa e Márcia Tosta Dias, a narrativa recupera a origem da Unesp a partir da decisão, de 1975, de reunir 14 institutos isolados de ensino superior do interior do Estado. O mais antigo deles, a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara, já existia desde 1923.

No início dos anos 1970, em pleno regime militar, o governo estadual deparava-se com grande número de solicitações dos municípios para criação de faculdades, uma demanda natural da fortalecida classe média do interior paulista. O ensino superior era essencial para impulsionar o desenvolvimento e assegurar a ascensão social dos filhos.

Os vários depoimentos do documentário convergem ao afirmar que a decisão de instituir a nova universidade foi autoritária, e criou de forma arbitrária uma estrutura que não respeitava o legado construído pelas comunidades. Cidades como Marília, Botucatu, Assis, Araraquara, tiveram cursos eliminados ou transferidos para outras cidades, gerando um clima de animosidade e conflito. O estatuto legal imposto não deixava espaço para autonomia dos dirigentes universitários. Também de forma autocrática, definiu-se que a reitoria da nova universidade seria instalada no recém-criado município de Ilha Solteira, no extremo oeste do Estado, local que abrigava a Hidrelétrica de Ilha Solteira.

Nos anos seguintes essa comunidade acadêmica heterogênea dedicou-se a construir a identidade da Unesp.  O empenho político por mudanças ganhou forças com o processo de redemocratização do país que desembocou na luta pelas eleições diretas. A adoção de um novo estatuto construído em processo de intensas discussões, e assinado em 1989, veio responder aos desejos de autonomia das unidades e de participação democrática tão almejadas por todos nós que vemos nas universidades públicas o caminho para o desenvolvimento de uma nação.

Quando se olha em perspectiva e se considera que esse processo ocorreu em um curto período de tempo, é legítimo que nós brasileiros nos orgulhemos também da capacidade de transformar e construir instituições. Este texto curto é a maneira mais singela que esta nordestina achou para agradecer, reverenciar e felicitar a universidade quase cinquentenária que me acolheu nestes 40 anos de docência, sempre me dando apoio aos inúmeros projetos e pesquisas iniciados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas nos 37 anos seguintes no Instituto de Química. Parabéns, Unesp!

*O artigo expressa exclusivamente a opinião do autor